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Alexandre Rodrigues Ferreira
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Este célebre naturalista, cognominado o Humboldt brasileiro, nasceu na Baía a 27 de Abril de 1755. Seu pai destinou-o à carreira eclesiástica, fê-lo tomar ordens menores em 1768, mas Alexandre Rodrigues Ferreira, ávido de instrução, obteve licença de seu pai para se matricular na universidade de Coimbra, e em 1779 partiu para Portugal, indo frequentar o curso jurídico. Dois anos depois reformou-se a universidade, e essa reforma interrompeu por um momento os estudos do moço brasileiro; mas ao mesmo tempo sentia ele que o impulso duma irresistível vocação o chamava para o estudo da natureza, e matriculou-se então na faculdade de filosofia, que frequentou com grande brilhantismo, tanto, tanto assim que dois anos antes de concluir o curso, já exercia gratuitamente as funções de demonstrador de história natural na universidade. Como era natural, a faculdade reservou uma cadeira para o moço estudante, mas nessa ocasião, Martinho de Mello e Castro, então ministro, procurando conhecer as imensas riquezas naturais do Brasil, pediu ao Dr. Domingos Vandelli, primeiro lente catedrático da faculdade de filosofia, que lhe indicasse quem pudesse desempenhar essas funções e o Dr. Vandelli designou-lhe Alexandre Rodrigues Ferreira, que aceitou gostosamente esse cargo tanto em harmonia com as suas tendências e as sua predilecções. Foi a 15 de Julho de 1778 que recebeu essa nomeação, mas não partiu imediatamente, e ficou por ordem do governo com outro naturalista distinto João da Silva Feijó, a estudar o carvão de pedra das minas de Buarcos, a descrever os produtos naturais do museu real da Ajuda, e a fazer experiências físicas e químicas. Em 1780 foi eleito sócio correspondente da Academia Real das Ciências, e nas sessões dessa douta corporação leu algumas memórias importantes sobre vários assuntos científicos. Em Setembro de 1783 partiu enfim para o Brasil e foi desembarcar no Pará. Começou imediatamente a sua viagem filosófica na ilha de Joanes, e nove anos andou estudando e percorrendo não só essa ilha como outros territórios do norte do Brasil e margens do Amazonas, fazendo investigações importantíssimas, coligindo amplíssimos tesouros e ao mesmo tempo tratando também de assuntos históricos e políticos. Voltando ao Pará onde exerceu os cargos de vogal das juntas de fazenda e de justiça, casou com a filha do capitão Luís Ferreira da Cunha, e em 1793 regressou a Portugal, onde foi nomeado oficial da secretaria de estado dos negócios da marinha e ultramar e foi em 1794 comissionado para administrar o real gabinete de história natural, o jardim botânico e anexos. Empregou então todo o seu tempo tanto no cumprimento dos seus deveres oficiais como na colecção e classificação dos muitos e preciosos objectos que trouxera da sua importantíssima viagem científica. Para fazer um trabalho com toda a perfeição, que ele desejava, faltavam ao ilustre sábio os capitais necessários e os indispensáveis auxílios, e não concorreria pouco essa deficiência para a melancolia que surdamente o principiou a minar, até que lhe arrancou a vida no dia 23 de Abril de 1815. Era um sábio de primeira ordem, e deixou muitas e importantíssimas memórias, algumas das quais se imprimiram, havendo porém muitas outras inéditas, que, segundo parece, se conservam em Portugal.