Documento
Luiz Barbalho Bezerra
Documento
Este ilustre oficial nasceu nos fins do séc. XVI em Pernambuco. Quando os holandeses tomaram esta cidade já ele era militar. Reunindo toda a gente de que pôde dispor, foi imediatamente apresentar-se a Matias dAlbuquerque. Este só cedeu a capitania palmo a palmo, e um dos vultos mais heróicos dessa guerra foi sem dúvida alguma Luís Barbalho Bezerra. Em 1635 Matias dAlbuquerque viu-se obrigado a abandonar de todo a capitania, e Luís Barbalho Bezerra ainda prolongou a resistência por quatro meses na fortaleza de Nazareth, vendo-se obrigado a capitular. Foi prisioneiro para Holanda, conseguiu fugir para Espanha, passou a Lisboa, organizou um terço e partiu para o Brasil. Contribuiu muito para a defesa da Baía contra Maurício de Nassau, e com mil homens embarcou a bordo da esquadra do conde da Torre para tentar alguma empresa grande nas terras sujeitas ao domínio holandês. Vieram os temporais; o conde da Torre desembarcou Barbalho Bezerra no primeiro ponto que se lhe deparou e partiu para o mar alto. Ora Luís Barbalho achava-se exactamente no Rio Grande do Norte, em pleno território holandês, e tinha penetrado nas três capitanias sujeitas ao domínio inimigo. Nem um instante pensou em entregar-se, e sem hesitação resolveu-se a empreender a sua terrível marcha. Recebendo amigavelmente mantimentos nas terras que lhe eram favoráveis, tomando-os à viva força e queimando o que não podia levar das povoações hostis, ia marchando Luís Barbalho para o sul com infinita cautela, procurando evitar sempre um recontro com tropas holandesas. Mas em Pernambuco soubera-se dessa audaciosa marcha e enviara-se uma coluna em sua perseguição. Foi então que Luís Barbalho Bezerra desenvolveu raras qualidades estratégicas, de vez em quando sumindo-se na floresta e logo depois caindo com um raio sobre a coluna holandesa para a molestar e desaparecer imediatamente. Em Goyanna não pôde deixar de passar e aí teve de se bater com um corpo de quinhentos e trinta holandeses. Derrotou-os e prosseguiu na sua marcha até ao rio de S. Francisco. Atravessou-o e achou-se enfim no território português, onde podia ser apoiado. A perseguição holandesa também parou ali. Estava terminado um dos mais brilhantes feitos darmas daquele tempo, a célebre retirada elogiada pelos próprios escritores holandeses. Em 1640 um episódio lamentável fez com que Barbalho Bezerra viesse preso para Lisboa por se ter assenhoreado do governo do colónia, que pertencia ao marquês de Montalvão. Reconhecida a boa fé com que procedera, porque julgara cumprir as ordens de D. João IV, que um padre jesuíta lhe transmitira adulteradas, Barbalho Bezerra voltou ao Brasil honrado com o título de governador do Rio de Janeiro, e esse cargo estava exercendo quando morreu em 15 de Abril de 1644.