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Salvador Correia de Sá e Benevides
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Pode dizer-se que é este o patriarca dos heróis fluminenses, porque foi talvez o primeiro homem notável que nasceu na cidade do Rio de Janeiro, de que seu avô fora um dos fundadores. Foi em 1594 que Salvador Correia de Sá nasceu. Tinha apenas 18 anos e já escoltava um comboio de trinta navios, que chegou a Portugal a salvo. Treze anos depois corria em socorro da Bahia, cercado pelos Holandeses, e de caminho expulsava-os de Espírito Santo. Daí a nove anos era nomeado almirante do mar do sul e combatia vitoriosamente os índios do Paraguai. Finalmente, três anos depois foi nomeado capitão-mor da capitania do Rio de Janeiro, onde estava ainda em 1640, podendo ali aclamar entusiasticamente a realeza de D. João IV e a independência de Portugal. Em 1647 recebeu o comando da esquadra que devia escoltar até à Europa os navios de comércio do Brasil; no desempenho desse cargo fez três viagens sem transtorno. Finalmente, pondo-se à frente de uma expedição insignificante relativamente à grande empresa que ia tentar, reconquistou o reino de Angola de que os Holandeses se tinham também apossado. Recebendo em 1658 o governo das capitanias do sul do Brasil, governo que estava sendo independente do governo central estabelecido na Bahia, soube administrar com grande habilidade. Em 1661 entregou o governo, e partiu para Lisboa, onde foi recebido com frieza. Em vez de o recompensar pelos altos serviços que prestara, recompensaram um seu filho, que fizeram visconde da Asseca. Julgavam talvez que o injuriavam com a preferência! O que vale é que os intrigantes de certa espécie não podem compreender os grandes afectos do coração humano, e não sabem que mais recompensam os pais com as mercês concedidas aos filhos, do que poderiam recompensá-los com as mercês que a eles lhes dessem. Em 1667 D. Afonso VI, que se vira obrigado a arredar dos seus conselhos o seu grande ministro conde de Castelo-Melhor, pediu conselho a Salvador Correia de Sá no lance apertado em que se via. Salvador Correia deu conselhos enérgicos e ofereceu-se para os executar. Bastou isso para que, logo que o infante D. Pedro tomou conta da regência, o mandasse prender. Solto pouco depois, voltou a tomar assento no Conselho Ultramarino, até que morreu no Dia 1 de Janeiro de 1688, tendo 94 anos de idade, lamentando não morrer no seio dos combates. O restaurador de Angola é nesse séc. XVII, em que houve, por assim dizer, ainda uma recrudescência de heroísmo, um dos heróis mais verdadeiramente notáveis de grande epopeia do Portugal decadente.