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José Francisco da Cruz
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Barão de Trovisqueira No catálogo editado pelo Museu Bernardino Machado e intitulado Barão de Trovisqueira Reencontro, Jorge Fernandes Alves, da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, afirma que José Francisco da Cruz «é, assim, um brasileiro em plena idade activa, dotado de elevado capital económico e humano, que vai desenvolver iniciativas empresariais e actividade política». No Brasil deixa ainda uma casa comercial e investimentos em prédios urbanos de rendimentos, que lhe asseguram embolsos regulares.? ?Construção do palacete ??Em 1859, ano em que conclui o palacete que construiu em plena rua Formosa, em Famalicão, casa com a sua prima Maria da Ascenção de Mora-Varona e Araújo, com quem tem três filhos. «O palacete tornou-se num ex-libris da vila, na medida em que era a construção mais majestosa, amplamente arejada por múltiplas janelas e varandas, exteriormente decorada por azulejos belíssimos e de elevada qualidade, pontificando no interior múltiplas e polifórmicas soluções decorativas em estuque», afirma Jorge Fernandes Alves. Este palacete, acrescenta, «tornou-se local de aposentadoria para figuras reais, chefes políticos ou figuras da cultura». ??Em 1861 é nesta casa que José Francisco da Cruz acolhe o rei D. Pedro V, recebendo, por isso, a Ordem Militar de Cristo e, em 1863, dá hospedagem à comitiva real de ?D. Luís, que lhe concede o título de Barão de Trovisqueira.??Esta proximidade às cúpulas do poder faz com que atinja a chefia do Partido Progressista em Famalicão e ocupe cargos públicos como o de deputado em duas legislaturas, administrador do concelho, presidente da Câmara de Famalicão e juiz substituto.??Do ponto de vista empresarial, salienta Jorge Fernandes Alves, o Barão de Trovisqueira «empenhou-se na promoção do americano, ou seja, no caminho de ferro em carril plano, para circulação no meio das povoações e nas ligações entre si, tendo como tracção o cavalo». Assim, obteve a concessão de instalação do primeiro americano no Porto, em 1870, que visava a linha marginal do Douro, da Porta Nova a Matosinhos. A sua acção, acrescenta, «estende-se ainda ao americano de Coimbra e ao caminho de ferro de Arganil».??O Barão de Trovisqueira destaca-se ainda por ter construído uma pequena fábrica de lã em Riba dAve que «representa o primeiro aproveitamento hidráulico conhecido para o concelho, assentando a estrutura motora do maquinismo numa turbina».??«Segundo o inquérito de 1890, o aparelho de fiar com 200 fusos, movido por acção da turbina hidráulica, continuava a destacar-se em termos tecnológicos, num concelho em que a fiação e tecelagem do algodão eram ainda de natureza manual», afirma Jorge Fernandes Alves.??Apesar da fortuna que amealhou e dos investimentos que realizou, os últimos anos de vida do Barão de Trovisqueira são passados com grandes dificuldades económicas, falecendo a 1 de Novembro de 1898, no seu palacete em Famalicão.