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Bartolomeu Lourenço de Gusmão
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Pertencente a uma família ilustre pelo talento, foi um dos filhos do cirurgião-mor do presídio de Santos, Francisco Lourenço de Gusmão, que todos se distinguiram nas letras, ou nas ciências ou na política, sendo entre elas um dos mais notáveis Alexandre de Gusmão. Nasceu Bartolomeu Lourenço em 1685, estudou em Santos com os jesuítas, e foi-se formar a Coimbra em cânones em 1700. Seguiu o estado eclesiástico como padre secular, manifestou-se distinto orador sagrado, e aplicando-se, por especialíssimo gosto, ao estudo das ciências físicas, pensou na possibilidade da navegação aérea, e inventou uma máquina, que diferia bastante dos balões actuais, mas na qual subiu contudo, na presença de el-rei D. João V e de toda a corte, até ao telhado da casa da Índia no dia 8 de Agosto de 1709. Este espectáculo excitou grande entusiasmo, cantaram-no os poetas, recompensou-o el-rei dando-lhe uma conezia e a cadeira de matemática na universidade de Coimbra, mas veio logo o fanatismo religioso do tempo embaraçar o sábio, que recebera do povo o cognome familiar de voador. Bartolomeu Lourenço tratava de aperfeiçoar a sua máquina que só se podia elevar até uma certa altura, quando o próprio rei lhe ordenou que terminasse as suas experiências, porque podiam ser taxadas de diabólicas. Em compensação nomeou-o membro da Academia Real de História, sendo um dos primeiros cinquenta que tiveram essa honra. Bartolomeu Lourenço escreveu a História do Bispado do Porto, e outras memórias. Sendo encarregado de negociar em Roma a elevação da capela do paço a patriarcado, voltou sem o ter conseguido, e ou por isso, ou porque se julgasse que Bartolomeu Lourenço se rira de sua importante comissão, o que é certo é que o padre descaiu do valimento do Rei, o que tanto o assustou, por ver que logo se desencadearam contra ele as iras dos fanáticos, que saiu de Portugal e foi morrer na miséria em Toledo, em 18 de Novembro de 1724. Ainda que Bartolomeu não atinou com o verdadeiro agente da navegação aérea, é certo que foi o primeiro que deu a esse problema uma solução pratica, embora imperfeita. Quem sabe quais as modificações que o talentoso padre introduzira no seu invento? É certo que lhe cabe uma boa parte da glória que toda reclamaram para si os irmãos Montgolfier, que daí a 79 anos inventaram em França os balões.