Documento
Fr.Francisco de MontAlverne
Documento
Este ilustre orador sagrado, não só o primeiro do Brasil, mas o primeiro na literatura sacra portuguesa do séc. XIX, chamava-se no séc. Francisco José de Carvalho, e nasceu no Rio de Janeiro a 9 de Agosto de 1784. Professou na ordem Franciscana em 1801 e em 1816 era nomeado pregador régio. Subiu na sua ordem até aos mais eminentes lugares, e na tribuna sagrada conquistou a primazia. Não era fácil porque o púlpito brasileiro honrava-se nessa época com ilustrações de primeira ordem, muito superiores à do púlpito português, que estava então em plena decadência. Frei Francisco de MontAlverne tinha uma imaginação brilhantíssima, possuía uma vasta erudição tanto profana como teológica, era um filósofo notabilíssimo; tudo isso concorreu para o fazer grande entre os maiores; a sua presença, a sua voz contribuíam ainda para dar um grande realce à sua eloquência. Por longos anos foi nos templos brasileiros o assombro dos auditórios, como nas cadeiras que regeu nos conventos da sua ordem era também o encanto dos seus discípulos. Um grande infortúnio o salteou na força da vida. O estudo aturado debilitara-lhe a vista que de todo lhe faltou em 1836. Então abandonou o teatro dos seus triunfos, e cego e triste viveu dezoito anos no fundo do seu convento, antes sepulcro, segregado do mundo dos vivos. A instâncias do imperador, foi pregar no dia de S. Pedro de Alcântara de 1854. A nova geração que só tradicionalmente o conhecia e admirava, pôde apreciar o que valia o grande orador, que lhe aparecia com a tríplice auréola do talento, da velhice e do saber. Foi o seu último dia de glória e de júbilo. Voltou para o seu cárcere voluntário, onde arrastou quatro anos de uma dolorosa vida, até que morreu no dia 3 de Dezembro de 1858. A sua biografia foi escrita em Portugal por um homem, que bem podia compreender a magia do estilo do Lacordaire brasileiro, porque era também um mestre em riqueza e vernaculidade de linguagem, como o drama final da existência do grande homem, porque era cego como ele. Esse biografo, foi o visconde de Castilho. O Crisóstomo do Brasil, o orador de boca de ouro teve em páginas de ouro também o seu panegírico sublime. (Pinheiro Chagas, 1909)