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Jorge de Albuquerque Coelho
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Filho de Duarte Coelho Pereira, donatário, da capitania de Pernambuco e de D. Brites d' Albuquerque, nasceu Jorge d'Albuquerque Coelho em Olinda, cidade fundada por seu pai, em 23 de Abril de 1539. Foi mandado para Portugal, mas, tendo morrido seu pai em 1554, regresso Jorge d' Albuquerque ao Brasil com seu irmão primogénito, e ajudou este tanto nas guerras contra os gentios como na exploração dos rios e das florestas. Foi ele que explorou uma grande parte do curso do rio de São Francisco. Em 1565 regressou Jorge d'Albuquerque Coelho a Portugal no navio Santo António, e a sua Viagem foi uma das mais tormentosas que podem imaginar-se, tanto que a descrição dessa infeliz travessia figura na HISTÓRIA-MARITIMA, e deu com muita probabilidade origem à lenda e cantiga popular, depois de porfiada resistência, por um corsário francês, depois sofreu tamanhos temporais que ficou em mísero estado, sucedendo, para cumulo de desventuras, que os franceses seus vencedores, depois de roubarem tudo ao navio português, até a bússola, o abandonaram avariado e quasi sem governo à fúria dos ventos e dos mares. A fome não tardou a pungir os míseros náufragos, e foram necessárias a constância e a coragem de Jorge D' Albuquerque para evitar muitos actos de desespero. Mas enfim navegando ao acaso e sem probabilidade algumas de chegar a um porto qualquer; já lançavam sortes para ver qual seria sacrificado à fome dos seus companheiros, quando por um verdadeiro milagre se lhes deparou de súbito terra portuguesa. Foram acolhidos com muita curiosidade e compaixão, e razão havia para isso, porque nunca mais horrendo drama se passará sobre as águas do mar. Em 1578 Jorge d'Albuquerque foi encarregado, no exercito que D. Sebastião levou à fatal expedição africana, do comando duma coluna de cavalaria. Em Alcacer-Kibir portou-se com extremo valor, defendeu, enquanto pôde, o seu rei D. Sebastião, e quando este, tendo-lhe morrido o cavalo, se achou a pé no meio dos mouros, Jorge d'Albuquerque cedeu-lhe sem hesitação o seu próprio cavalo, perdendo assim, com a maior singeleza, todas esperanças de salvação, para dar ao seu monarca, ao chefe do país, uma probabilidade de escapar à morte. Efectivamente, não tardou a cair, coberto de feridas, sendo levado como prisioneiro para Fez, onde sofreu uma dolorosa operação nas pernas, que o deixaram aleijado para toda a sua vida. Resgatado já no tempo do domínio espanhol, voltou para Portugal, mais venturoso do que seu irmão que morreu cativo. Pelo falecimento deste herdara Jorge d'Albuquerque a capitania de Pernambuco, mas isso de nada lhe servia, porque estava invalido para a defender contra as agressões dos índios, indigente para a sustentar e desenvolver. O rei Filipe II, desejando cativar homem de tanta fama, que se mostrava esquivo às suas regias ordens, ofereceu-lhe auxílio para poder manter a província americana de que era donatário. Aceitou-os Jorge d'Albuquerque para não desbaratar o património de seus filhos, mas não voltou ao Brasil, fazendo-se representar em Olinda, por seu filho Duarte, logo que este chegou à idade própria. Ficou em Portugal, onde entreteve os ócios da sua velhice escrevendo alguns estudos e algumas memórias históricas sobre as guerra da exploração do Brasil. Aí morreu, provavelmente nos princípios do século XVII, porque em 1596 sabemos nós que ainda vivia. Tornou-se célebre Jorge d'Albuquerque Coelho em primeiro lugar pelas desgraças, entre as quais avulta principalmente a da sua desastrosa viagem marítima do Brasil, em segundo lugar pelo brio e abnegação com que se portou na batalha de Alcacer-Kibir, dando numa época, já profundamente eivada pelo egoísmo, um exemplo notável de patriotismo heróico e de coragem sobre humana.