Ufana-se o Brasil por ter dado o ser a este homem ilustre, sábio notável, distinto poeta, eminente estadista e um dos fundadores da independência brasileira.
Nasceu na cidade de Santos na província de S. Paulo a 13 de Julho de 1763. Era filho do coronel Bonifácio José dAndrade, e de sua mulher D. Maria Barbosa e Silva.
Veio à metrópole para se formar em Coimbra na faculdade de Direito, o que efectivamente realizou; mas o duque de Lafões, conhecendo a vocação do ilustre brasileiro para as ciências naturais, em cuja faculdade também se formara, propô-lo para sócio da academia real das ciências, e obteve que o governo lhe desse uma pensão para fazer na Europa uma viagem científica.
Foi seu talento muito apreciado lá por fora, e memórias importantíssimas revelam o fruto que tirou dos seus estudos e viagens.
Recolhendo-se a Portugal, foi nomeado intendente das minas e lente de uma cadeira de metalurgia, novamente criada.
Quando os franceses invadiram Portugal, José Bonifácio pegou em armas e defendeu valentemente a pátria dos seus antepassados.
Antes de tornar ao Brasil, ainda foi intendente da polícia da cidade do Porto; voltando enfim à sua terra natal em 1819, ali se achava quando rebentaram as discórdias entre a metrópole e a colónia, concorrendo ele não pouco para que essas discórdias se transformassem em separação definitiva.
Não lhe devem querer mal por isso os portugueses; José Bonifácio pugnava pela independência da sua pátria, mas o seu talento e a nobreza do seu carácter não deixam por isso de honrar a grande família portuguesa.
Proclamada a independência do Brasil nas margens do Ipiranga, no dia 7 de Setembro de 1822, foi José Bonifácio eleito deputado às cortes do novo império, e nomeado ministro pelo novo imperador.
As lutas políticas, inseparáveis do berço das instituições, obrigaram-no a emigrar partindo para França. Viveu em Bordéus até 1829 entregando-se ao trato das musas e a outros estudos predilectos.
Chamaram-no de novo os seus concidadãos, que reconheciam enfim os grandes serviços que lhes prestara. O seu regresso foi verdadeiramente triunfal. No país que tanto amara, e lhe devia tanto, lhe correram os últimos dias, venerado por um povo inteiro que lhe chamava o patriarca da liberdade. Morreu a 6 de Abril de 1838.
Sábio, ilustre, as suas poesias são também cheias de mimo. Escreveu-as segundo o uso introduzido pelos arcades, debaixo do nome pastoril de Américo Elysio.
(Pinheiro Chagas, 1909)