Pessoa
José Francisco Correia
Biografia
José Francisco Correia - Visconde de Sande e Conde de Agrolongo - O titulo de visconde de Sande foi-lhe dado por D. Carlos em 1898 e o de conde em 1904 também por D. Carlos José Francisco Correia foi um destes brasileiros de torna viagem. Talvez um dos mais completos, mais dedicados e altruístas. Do que se conhece hoje da sua vida e obra parece-nos ter sido um esforçado e pertinaz lutador que fez a sua fortuna correctamente; e que um dia, voltado à sua terra, soube fazer o bem sem alardes de vaidade e ostentação. Lembraremos, a propósito, que na passagem do século passado para o presente não se entendia bem que quem quer que fosse que fizesse uma vultuosa oferta não ficasse com o seu nome visível na obra que protegera; até para servir de exemplo de outras acções mecenáticas. Nasceu no lugar da Bouça, da freguesia então fortemente rural de São Lourenço de Sande, concelho de Guimarães. Aos 14 dias do mês de Fevereiro de 1853[1]. Foi para o Porto com 10 anos[2]. Hoje revoltámo-nos, e muito justamente, de ver trabalhar crianças com tão tenra idade. Mas naquela data era natural. As crianças eram mais um elemento da cadeia de produção, eram adultos com corpo e idade de criança. Até no vestir isso se notava. Quem se não lembra de ver fotografias de miúdos de 10 anos, ou menos, vestidos de fato, gravata e chapéu? O Porto foi apenas uma escala, horizontes mais largos que os da sua aldeia, mas não era o destino ambicionado. Mas foram três anos de aprendizagem à vida da cidade e ao trato com homens muito diferentes. Valeu-lhe o padre da sua freguesia que lhe deu uma recomendação para um irmão que tinha no Rio de Janeiro, funcionário de uma fábrica de cigarros em Niterói, do outro lado da baía de Guanabara. É esse o primeiro grande momento da sua vida, o início da aventura. A travessia do mar foi penosa, numa casca de noz auspiciosamente chamada Félix. Aí sofreu o que nem em casa sofrera: um lugar de terceira classe que era um espaço sem ar nem limpeza, onde não se diferençava o local de dormir do de armazenar as bagagens. As refeições eram sempre iguais: uma sopa servida em selhas para cinco pessoas. O pão era a velha e intragável bolacha de marinheiro. Foi mês e meio de sofrimento. E de esperança temperada de angústia, que a desejada novidade também assustava! A fábrica para onde foi trabalhar também não tinha boa fama, bem pelo contrário: a exploração a que submetia os empregados de menor idade, e não só, era desenfreada. Valeu-lhe a carta de recomendação do seu pároco para o colocarem num local menos violento: o depósito. As suas funções eram um misto de guarda e empregada de limpeza. O ordenado era de uns magros 15$000, com cama e comida. O seu feitio cordato, mas atento e reflectido, deve ter feito com que fosse escolhido para, apenas com 18 anos, passar a gerir outra pequena fábrica do mesmo ramo. Era o primeiro grande degrau vencido. Poucos anos depois resolveu estabelecer-se com fábrica própria. Um amigo que acreditava cegamente nele emprestou-lhe uma grande quantia: 300$000. Na rua 7 de Setembro, nº 92A, instalou uma pequena e velha máquina de fazer cigarros. O nome que deu ao seu estabelecimento parecia pomposo, mas não era; antes reflectia o desejo e a vontade férrea do seu fundador: Imperial Estabelecimento de Fumos Veado. Os primeiros tempos foram difíceis. Mas um dia tudo se alterou quando, mercê de aturadas pesquisas, descobriu que o tão procurado tabaco francês era feito com matéria-prima nacional. João Francisco passou logo a elaborar produto em tudo igual ao francês, mas com uma enorme diferença no preço. É que o seu custava apenas pouco mais de um terço do tabaco estrangeiro! Foi um sucesso fulminante. Era a riqueza, a fama e o reconhecimento público pelo impulso que dava na economia nacional brasileira. O que lhe valeu a visita à sua fábrica do então presidente Campos Sales. Era o triunfo da persistência, do estudo e de um bom génio comercial. Era também a prova de que se podia fazer bom dinheiro por modos lícitos, sem exploração do seu semelhante. E tanto não abusava que, mais tarde, veio a dar sociedade, ou a apoiar, muitos dos seus antigos empregados. Alcançada a riqueza e o reconhecimento público era tempo de se virar para outros campos. A assistência foi um deles e aquele em que mais se notabilizou. No Brasil ficou célebre o extraordinário apoio que com o seu dinheiro e o seu nome deu à Benemérita Portuguesa e outros estabelecimentos semelhantes. De igual forma foram muitos os estabelecimentos que apoiou, ou fundou de raiz, em Portugal. Escolas, igrejas, asilos, ajuda a amigos e muitas outras coisas mais receberam a necessária ajuda no seu desejo beneficente, ou nele encontraram eco amigo e apoio seguro. Sem querermos ser exaustivos vamos tentar enumerar aqui algumas das suas obras. Na sua freguesia natal de São Lourenço de Sande: - fundação da escola para ambos os sexos, com prémios e fundo de reparações - reparações na igreja paroquial - reforma da capela do Espírito Santo e fundo de reparações - consertos em vários caminhos. Em estabelecimentos de ensino: - escola primária de Oliveira, Póvoa de Lanhoso - escola móvel para funcionar no concelho de Guimarães - oferta de grande quantia (2.000$000) à escola de Barcelos. Em igrejas ou capelas: - construção da igreja paroquial de Nossa Senhora da Conceição, nas Caldas das Taipas - o sino grande para a igreja paroquial de Vila Nova de Famalicão - oferta do sino si-b, de 437 quilogramas para o carrilhão do santuário do Sameiro[3] - recuperação e nova fachada da igreja do convento do Salvador, em Braga, integrada no Asilo de Mendicidade. Obras assistenciais: - pensão para manter 10 mulheres no antigo Colégio da Regeneração - donativo às casas de São José de Braga, Lisboa, Porto, Barcelos e Viana do Castelo - donativo para a construção do hospital de Esposende - donativo para o asilo do Menino Deus, de Barcelos e outras instituições de assistência daquela cidade - donativo à Misericórdia de Barcelos para os seus protegidos - donativos e apoio às Irmãzinhas dos Pobres, de Campolide; Casa Pia; Asilo dos Cegos Branco Rodrigues; Asilo de Cegos Fernando Castilho. (Todos estes estabelecimentos são de Lisboa.) - construção e manutenção da creche de Santa Helena, para cerca de 200 crianças, com refeições e ensino - protecção aos filhos das vítimas da primeira Grande Guerra - e, sobretudo, a transformação total do edifício antigo Asilo de Mendicidade de Braga, com uma parte dedicada aos cegos, assistência a tuberculosos e material médico necessário, fundo de renda para os enterros dos asilados, etc. Como homenagem pelo seu excepcional esforço a direcção de então resolveu mudar o nome deste estabelecimento para Asilo Conde de Agrolongo. É esta, sem dúvida alguma, a sua merecida coroa de glória! Com tamanha actividade beneficente e com tão grande prestígio e poder comercial e industrial é natural que os diplomas de sócio de mérito com que lhe quiseram testemunhar o seu apreço e agradecimento, as condecorações e os títulos que lhe foram conferidos sejam em grande número. Os diplomas mostram, como poucos outros documentos, a intensidade da sua acção[4]. Conservam-se ainda muitos, se não todos, no Lar Conde de Agrolongo; salvo raras excepções estão emoldurados e decoram todo o corredor que vai da entrada até ao claustro. Pela sua beleza reproduzimos alguns neste livro, sendo um deles concebido pelo melhor arquitecto português da primeira metade do século, o lisboeta Raul Lino. Nas condecorações avultam a cruz de Mérito Industrial que lhe foi atribuída pelo rei Dom Carlos; e o grau de Cavaleiro de São Gregório Magno, com que o célebre papa Leão XIII achou por bem distingui-lo. Mas os seus títulos mais importantes foram os que o fizeram ascender à nobreza: em 20 de Dezembro de 1900 foi agraciado com o título de Visconde de Sande; e em 23 de Janeiro de 1904 com o de Conde de Agrolongo[5]. Nas suas armas é bem visível a referência ao veado, nome que deu à fábrica que o enriqueceu. Para não cansar o leitor e porque são de facílima leitura as suas cartas de nobreza, preferimos apresentar o fac-simile delas. O mesmo se diga para o seu brasão de armas. José Francisco Correia, conde de Agrolongo veio a morrer em Lisboa, na praça de Camões, no dia 15 de Abril de 1929[6] Em apenas alguns traços, os que reputamos essenciais, é esta a biografia de José Francisco Correia, um homem lutador e rico de bens materiais e espirituais, um homem que tem fundado direito a figurar na aristocracia do bem, que é incontestavelmente a mais ilustre[7][8]. BIBLIOGRAFIA CONDE, 1928 - Conde de Agrolongo. Synthese da vida e obra do grande industrial. Rio de Janeiro, 1928. NÓBREGA, 1970 - NÓBREGA, Vaz Osório da - Pedras de Armas e Armas Tumulares do Distrito de Braga. I - Cidade e concelho de Braga. 1 Cidade. Tomo 1, Braga, Junta Distrital, 1970, pág. 341-353. NÓBREGA, 1977 - NÓBREGA, Vaz Osório da - As armas de mercê nova de José Francisco Correia, visconde de Sande e, depois, conde de Agrolongo. Armas e Troféus, Braga, 3ª série, 6 (3), 1977, pág. 288-293. [1] - Arquivo Alfredo Pimenta, Guimarães. Livro de nascimentos: São Lourenço de Sande. [2] - As informações que apresentaremos sobre a vida e obra do conde de Agrolongo foram extraídas do livro CONDE, 1928. Para não sobrecarregarmos o texto com notas passaremos a fazer anotações apenas se a nossa fonte for outra que não aquele livro. [3] - OLIVEIRA, 1992-1993 (145), pág. 68. [4] - A título de exemplo transcrevemos aqui parte da acta da Associação Comercial de Braga, da sessão em que lhe foi atribuído o título de sócio honorário: Senhor Conde: Na última reunião da Assembleia-geral desta Associação propôs a direcção ... que o nome de V.Exa fosse incluído no número dos seus sócios honorários. Para justificar a sua proposta relembrou a Direcção os inolvidáveis benefícios, que V.Exa tem prestado a esta cidade, afirmando a grande generosidade do seu coração em actos dum altíssimo valor social, como são todos aqueles que V.Exa tem praticado para promover a instrução e para minorar o infortúnio das classes pobres. Teve a Direcção a honra e satisfação de ver que a Assembleia-geral aprovou por unanimidade a nossa proposta com palavras de justíssimo louvou para V.Exa. Perante V.Exa vimos, pois, embora com a singeleza imposta pelo carácter da nobre agremiação que temos a honra de representar, dar cumprimento aquela resolução da Assembleia Geral, depondo nas mãos de Vexa o diploma de sócio honorário da Associação Comercial de Braga, significando-lhe, assim, a alta estima que o comércio e a indústria desta cidade tem por um dos seus mais ilustres membros, a sua profunda admiração pelas primorosas e fidalgas qualidades de V.Exa e a sua gratidão pela grandiosa obra que V.Exa vem realizando na prática do Bem. Braga, 21 de Maio de 1908 A Direcção Texto extraído de ASSOCIAÇÃO COMERCIAL DE BRAGA - Relatório dos actos da direcção. Ano de 1908. Braga, 1909, pág. 7-8. [5] - NÓBREGA, 1970 e NÓBREGA, 1977. [6] - NÓBREGA, 1970, pág. 353. Sobre a sua nobreza de carácter veja-se, também, MENDONÇA, 1957. [8] - CONDE, 1928, pág. 38.
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