Pessoa
Francisco J.Leite Lage
Biografia
Auto-biografia Nasci no dia 15 de Agosto de 1814 e fui baptizado a 17 na freguesia de são Mamede de Cepães. Saí de casa de meus país para a cidade do Porto em 28 de Maio de 1827, e embarquei para o Rio de Janeiro a 4 de Junho no brigue Invencível. Esse barco foi tomado pelos corsários argentinos nas alturas de Cabo Frio no dia 26 de Julho e no dia 27 fui e os mais passageiros transbordado para bordo da galera Príncipe Real e nela entramos na barra do Rio de Janeiro a 1 de Agosto de 1827. Fui nesse mesmo dia para casa de meu primo, João António de Castro Leite, estabelecido com loja de couros, na rua da Quitanda, n.º 4, para quem levava carta de recomendação. Ali estive como hospede até me aparecer colocação. A 18 de Outubro de 1827 fui de caixeiro para casa de Francisco José da Silva Braga, estabelecido com casa de secos e molhados na Rua do Sabão, n.º 175. O Braga vendeu a casa do negócio em 20 de Maio de 1828 a Jorge de Oliveira que tinha sido soldado. Continuei caixeiro de Jorge de Oliveira, porem, não o podendo aturar (por ser muito mau) despedi-me 20 de Março de 1830, saindo da casa no dia 30. Fui para caixeiro de João José da Silva Vieira com armazém de secos e molhados, na rua do Rosário, n.º 98, Canto da rua dos Ourives e lá estive ao fim do ano de 1830, porém, não sendo do meu agrado aquele negócio e tendo a ocasião de colocar-me em loja de couros, despedi-me, e fiz contas no fim de Dezembro de 1830, recebendo do resto dos meus salários 6$419 réis. Era esta toda a minha fortuna no fim de 3 anos e 4 meses de sofrimento e provações no Rio de Janeiro! Em 1 de Janeiro de 1831, entrei para caixeiro de meu primo José António de Castro Leite, com loja de couros na rua da Quitanda n.º 40, canto da rua do Cano, sendo sócios da mesma Joaquim José Ribeiro Lima e meu irmão António José Leite Lage, o qual me impôs a condição quando entrei de não nos tratarmos como irmãos: que lhe chamaria Sr. António e ele a mim de Sr. Francisco. No dia 4 de Abril de 1831 fui preso, o meu patrão Castro Leite, o sócio Lima e cinco vizinhos que estavam a conversar na loja, isto por sermos portugueses e terem dado uma denúncia falsa de que meu patrão mandara vir portugueses de Portugal para armar contra o Brasil. Estivemos presos na sala do carcereiro até 9 de Abril, e nesse dia conhecendo o Juiz do crime que a denúncia era falsa, deu-nos ordem de soltura. O carcereiro por nos conservar nas salas (para não entramos na cadeia) levou-nos 100$000 réis a cada um. Felizmente para mim esta quantia e as mais despesas que me tocaram foram pagas pela loja de negócio por eu ter sido preso dentro do balcão. No fim do ano de 1833 meu primo e patrão José António de Castro Leite venderam a loja de couros a meu irmão António José Leite Lage.?E eu fiquei caixeiro de meu irmão, prometendo ele de dar-me interesse quando pudesse, o que eu supus ele fizesse no fim de 3 ou 4 anos, mas tive de esperar 9 anos!?Em fins de 1841 foi-me oferecida sociedade em uma loja de couros que queria montar Bernardino de tal, que vinha do Rio Grande do Sul. Em vias disto meu irmão não teve remédio, para eu não sair, senão dar-me sociedade há 9 anos prometida.?Entrei para sócio, interessado na terça parte, no 1.º de Janeiro de 1842. Entrei com os restos dos meus salários para fundos de sociedade, os quais, tendo eu seguido o sistema de gastar só metade do que eu ganhava e apesar de todas as minhas economias, da grande sujeição em que vivia e das apoquentações que passei, só tinha podido juntar a quantia de 1.201$550 réis, moeda fraca, isto no fim de 14 anos de caixeiro. Tendo falecido meu pai em 2 de Maio de 1842 meu irmão António resolveu vir a Portugal.?Como eu tinha de ficar com todos os encargos do negócio, combinamos eu ficar interessado em metade dos lucros e perdas. Isto principia em 1 de Janeiro de 1843.?Meu irmão demorou-se em Portugal 3 anos, voltando em 1846. Conservamos a sociedade até aos fins de 1849.?Fui sócio com meu irmão António 7 anos. No fim do ano de 1849 comprei-lhe a loja de couros, sem abatimento algum nem em dívidas em fazendas, dando-lhe tudo quanto ele quis que foram 12 apólices da dívida pública do Império do Brasil.?No dia 1.º de Janeiro comecei o negócio por minha conta e com a ajuda de Deus e a protecção do meu primo Fortunato que me emprestou o dinheiro que eu precisava para comprar as 12 apólices que tinha de dar a meu irmão e também o dinheiro necessário para as minhas transacções comerciais. Foi com a protecção deste meu verdadeiro amigo e com a ajuda de Deus que me deu saúde e inteligência para dirigir os meus negócios, seguindo sempre o meu bom sistema que adoptei quando era caixeiro de só gastar metade dos meus rendimentos, capitalizando a outra metade em benefício de meus filhos e da minha mulher e mais herdeiros. Em 1853 faleceu a Sr.ª D. Leonor de Oliveira Mascarenhas, dona do prédio da Rua da Quitanda, n.º 40, em cujo prédio existia a minha loja de couros. Em testamento deixou metade desse prédio ao P. David S. Oliveira Mascarenhas e a outra metade ao Dr. João Torcato Mascarenhas. ?Comprei a metade pertencente ao P. David º Mascarenhas em 31 de Agosto de 1857. Fazia nesse dia 30 anos e 30 dias que eu tinha chegado a essa mesma loja com uma carta de recomendação para o dono dela e que era meu primo José António de Castro Leite, com um cruzado novo na algibeira e com uma pequena trouxa de roupa, pois a caixa tinha ficado no navio tomado pelos corsários argentinos em 1827. ?Mal eu pensava nesse tempo que aquela loja de couros e o prédio onde ele estava seria tudo meu. ?Este prédio dá-me o rendimento suficiente para eu viver decentemente o resto da minha vida. Assim são as coisas deste mundo! Só Deus é grande! Em 8 de Outubro de 1857 comprei outra metade do prédio ao Dr. Oliveira Mascarenhas. O preço por que o comprei consta do copiador de cartas e lembranças, fls.12. Comprei-o assim porque estava em risco de ser demolido para alargamento da rua. A desapropriação era por 12 contos, como felizmente não se realizou por se ter dissolvido a Companhia Edificadora, posso dizer que agora vale o dobro do que me custou. No ano de 1858 vim a Portugal visitar a família, também para ver se lograva boa saúde e se me convinha ficar cá definitivamente. ?Deixei a loja entregue ao caixeiro José da Silva Souto, a quem dei interesse em metade dos lucros. Em 1859, voltei para o Brasil com tenção de vender a loja e fixar residência em Portugal. ?Em 31 de Dezembro de 1860 liquidei todas as contas com os credores e vendi a loja ao meu sócio José da Costa Ferreira Souto, que depois dos abatimentos que lhe fiz nas dívidas de alguns fregueses e nas fazendas me ficou a dever 9.600$000 réis; e cuja quantia ele passou e aceitou 16 letras de 600$000 réis cada uma, a vencer uma cada mês (que ele pagou pontualmente nos seus vencimentos), tendo por isso liquidado contas com ele. Em 1861, depois de liquidados todos os meus negócios entreguei a meu primo Fortunato José S. uma procuração bastante para ele receber os alugueis de meu prédio, e as letras quando se fossem vencendo, e vim para Portugal na companhia de meu primo e ex-patrão João de Castro Leite e de Albino de Oliveira Guimarães. Embarcamos no vapor francês Navarra a 25 de Março e chegamos a Lisboa a 15 de Abril. Estivemos no Lazareto 8 dias e desembarcamos no Terreiro do Paço a 22 de Abril. Hospedamo-nos no Pedro Alexandrino, na rua da Betesgas em frente à Praça da Figueira, demorando-nos para ver Lisboa, Sintra, Mafra, etc. No dia 5 de Junho saímos para o Porto no caminho-de-ferro às 8 da manhã, passando pelas estações Poço do Bispo, Olivais, Sacavém, Povoa, Alverca, Alhandra, Vila Franca, Carregado, onde saímos entrando para um coupé alugado a Carreiro Jacinto às 10 horas. Passamos por Alenquer, Ota, Espinheiro, Cercal, onde jantamos na Hospedaria do Leal. Seguimos por Aceiceira e chegamos às Caldas da Raínha às 6 da tarde, pernoitamos no Gaiteiro. Saímos no dia 6, às 5 da manhã, passando por Vale da Maceira, chegando a Alcobaça, às 9 h onde almoçamos e depois de ver o Mosteiro com vagar seguimos passando por Cumieira, S. Jorge, e depois de vermos a pá de ferro da padeira de Brites de Almeida de Aljubarrota, fomos ver o mosteiro da Batalha, donde saímos ás 5 h a da tarde, passando por Azoita chegamos a Leiria onde pernoitamos na hospedaria do Avis. Às 4 da manhã do dia 7, saímos passando pelo lugar das Machadas, chegando a Pombal às 8 h onde almoçamos no António Tomás. Depois passamos pela Vila Bestinha, Vendas Novas, Condeixa, chegando a Coimbra ás 5 horas. ?Pernoitamos na hospedaria Francisco L. Carvalho. No dia 8 fomos ver fomos ver a Universidade, o Observatório, as livrarias, o Penedo da saudade, a quinta das Lágrimas, onde foi assassinada D. Inês de Castro, o belo Passeio e o Jardim Botânico. Ás 4 h da manhã do dia 9 saímos passando por Fornos, Carqueijo, Mealhada , onde almoço na hospedaria da Basílio, seguindo por Pedreira, Ponta da Pedra, Avelãs, Aguada e Mourisca, Ponte do Vouga, Albergaria-a-Velha, Albergaria a Nova, Pinheiro da Bemposta, Ponte do Pégo e Oliveira de Azeméis, onde pernoitamos na hospedaria Alegria. Ás 5 h da manhã do dia 10 saímos passando por Pico, S. João da Madeira, Arrifana, Souto Redondo, Vendas Novas, Vergadas, Grijó, Carvalhos, onde almoçamos e jantamos. De tarde saímos, passando por Arroios, Alto da Baneira, V. N. de Gaia, e no Porto fomos para a hospedaria Luso- Brasileira, na rua do Calvário, n.º 72, próximo à Cordoaria. Demorámo-nos no Porto até 19 de Junho. No dia 20, pelas 5 h da manhã, saímos do Porto e jantámos em Famalicão, seguindo para Guimarães, onde pernoitamos na Joaninha. No dia 21 fomos a Vizela, visitar os Srs. Machado Oliveira, J. P Martins, J G. da Cunha e outros amigos que lá estavam a banhos, voltando para Guimarães. No dia 22, depois de vermos a cidade e a feira que havia nesse dia seguimos de tarde para a nossa freguesia de Cepães, indo eu a acompanhar o meu ex-patrão e primo Castro Leite à sua casa das Nogueira, e vindo depois para esta casa da Lage, onde encontrei minha mãe e meus irmãos José, Joaquina e Maria, gozando boa saúde. Também veio no mesmo vapor e andou sempre na nossa companhia de viagem António Gomes da Silva Guimarães, o qual hospedei nesta casa da Lage onde esteve até 29 de Julho o companheiro de viagem. Tendo meu primo Casto Leite de visitar um seu compadre em Viana do Castelo, convidou-me para o acompanhar e fazer uma digressão até Caminha e também e ao sobrinho dele Manuel de Castro Leite, ao primo Oliveira, aos dois cunhados de Urrães e ao Guimarães que também tinha sido companheiro de viagem do Rio. Saímos na madrugada de 29 de Julho de 1861 saímos em número de sete indo a cavalo até Guimarães. Ali alugamos ao Biscoiteiro uma caleche que nos levou até Famalicão e Braga, onde demoramo-nos dois dias; passamos um dia no Bom Jesus e depois seguimos por Barcelos para Viana do Castelo, e de lá fomos a Caminha, sempre em boas estradas, e depois de termos visto tudo à nossa vontade voltamos até V. N. de Famalicão e de lá seguiram para o Porto o primo Castro Leite e o Guimarães e eu e os outros quatro voltamos para Cepães onde chegamos na tarde de 6 de Agosto sem incómodo algum. No dia 28 de 1861 começaram os pedreiros a quebrar pedra para as obras da casa da Lage. ?No dia 25 de Outubro de 1861 fui para o Porto e de lá para Lisboa passar o Inverno deixando o meu irmão José encarregado de pagar aos pedreiros todas as semanas. No dia 5 de Novembro saí do Porto para Lisboa na Mala-Posta às 7 horas da noite.?Ceei em Oliveira de Azeméis, almocei no dia 6 em Coimbra, fomos jantar a Leiria perto das 5 horas da tarde, demorando-nos 3 quartos de horas; chegamos às Caldas da Raínha, onde alguns cearam, e andamos toda a noite chegando ao Carregado às 6 ½ da manhã esperando até às 7 pelo caminho-de-ferro em que seguimos para Lisboa onde chegamos antes das 9 h do dia 7 sem incomodo algum. Passei em Lisboa todo o Inverno e no dia 3 de Abril voltei para o Porto onde me demorei até ao dia 19, sábado de Aleluia e nesse dia segui com o meu primo Castro Leite para Guimarães e de lá para Cepães onde chegamos de tarde passando a Páscoa com a familiar. No dia 21 de Abril de 1862 mandei abrir os alicerces para assentar a pedra que estava pronta.?Ainda fui a Lisboa passar os Invernos de 1862 e 63, enquanto os pedreiros iam aprontando a pedra para as minhas obras, as quais terminaram em 1866, no fim de 5 anos isto as do Norte, pois mais tarde também mandei fazer as do lado Sul; ou da Igreja, para reserva de minhas irmãs, e as casas para o caseiro, alpendres e eira, que levaram 2 anos a fazer, começando em 1868 e terminando em 1870.
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