Biografia
José Cardoso Vieira de Castro
Biografia
Dentro do ramo da família dos Vieira de Castro, surgem figuras de relevo e significado pela sua participação na vida eclesiástica, política, judicial e intelectual, tornando-os referência local e nacional, desde os finais do século XVIII. No século XIX, destacaram-se os que foram figuras de relevo na actividade industrial e empresarial, depois de terem sido bem sucedidos na emigração e retorno do Brasil. São, também, célebres, os Vieiras de Castro que se envolveram nas lutas liberais e os que se tornaram figuras importantes na administração pública local e nacional. Camilo Castelo Branco ao transformar José Cardoso em personagem das suas obras e inspiração para muitas outras, fez dele uma figura incontornável na história e na cultura da segunda metade do século XIX. Esta notoriedade amplia-se, também, pelo carácter trágico do destino da sua vida - José Cardoso morre com 36 anos, em África, depois de ter sido condenado ao degredo. Na escrita de Camilo, surge a referência a seu pai Luís Lopes Vieira de Castro e aos tios António Manuel e José Vieira, dizendo que foram, em verdes anos, três denodados jogadores de pau, dos quais damos breve nota biográfica tal como dos restantes tios: Josefa MARIA Lopes Vieira falecida em 12.01.1856 casada em 24.02.1802 com João Lopes de Freitas (ascendentes dos Vieira de Castro de Antime - Avôs de José Ribeiro Vieira de Castro, nascido a 04.03.1843 fundador da Fábrica do Ferro Antónia MARIA Lopes Vieira de Castro nasceu a 18.03.1786, na Casa do Ermo, S. Vicente de Passos, Fafe e faleceu a 2.11.1850 em São Lourenço de Sande em Guimarães. Casou a 29.10.1805 com Dr. Francisco Luís de Macedo Licenciado em Direito pela Universidade de Coimbra, Juiz de Direito na Comarca de Alijó e na Póvoa do Lanhoso em 1852, nascido a 15 Dezembro de 1784, na casa da Portela, Santa Maria de Galegos Barcelos. Foi Baptizado a 18 Dezembro de 1784 pelo Rev. Bento José de Macedo. Foram padrinhos Francisco de Macedo abade de S. Clemente de Basto e madrinha Luiza Tereza do Nascimento religiosa no Mosteiro de S. Bento de Barcelos, por procuração que apresentou ao dito Reverendo P.® Bento José de Macedo. Maria Lopes Vieira de Castro nasceu a 7 de Maio de 1787, na freguesia de Passos, Fafe e faleceu a 26 de Outubro de 1863, com a idade de 76 anos. Casou, a 15 de Janeiro de 1810, com José António Costa, nascido a 28 de Abril de 1785, na freguesia de Passos, Fafe, tendo falecido a 28 de Janeiro de 1872, com a idade de 86 anos. Teresa Lopes Vieira Rosa Anjos, nasceu a 5 de Dezembro de 1788, em Passos, concelho de Fafe, faleceu em 16.04.1849 e casou a 24 de Maio de 1818 com Jacinto Gomes Oliveira Guimarães. Manuel JOSÉ Lopes Vieira de Castro nasceu a 5 de Março de 1790, em Passos, Fafe, falecido a 27 de Agosto de 1791, com a idade de 17 meses. José Lopes Vieira de Castro nasceu a 2 de Abril de 1792, em Passos, Fafe. Foi vereador em 1858 e 1859 e Vice-Presidente da Câmara em 1860 e 1861. Camilo diz que é o homem principal do seu concelho Será deputado quem ele quiser, será absolvido pelo júri o réu que ele proteger, será intangível das presas da justiça o culpado que as suas telhas cobrirem. A casa dos Vieiras é a única que mantém ainda a despeito da equitativa carta constitucional, as prerrogativas e imunidades do couto. Ana Lopes Vieira Castro nasceu a 24 de Março de 1794, na freguesia de Passos, Fafe e faleceu a 20 de Dezembro de 1842, com a idade de 48 anos. Casou a 24 de Junho de 1818 com António Costa Torres, nascido a 14 de Fevereiro de 1787, São Paio, Guimarães. António Manuel Lopes Vieira de Castro nasceu a 15 de Julho de 1796, na Casa do Ermo, em São Vicente de Passos, Fafe. Faleceu com o tifo a 20.09.1842 e foi sepultado no cemitério dos prazeres em Lisboa Foi ministro dos estrangeiros e da marinha e bispo de Viseu. Camilo Castelo Branco apresenta-o com um conjunto de referências de prestígio: quem adivinharia então do pujante António Vieira sairia o ministro dilecto da senhora D. Maria II, o mestre dos liberais, o amigo e conselheiro dos Passo, do Silva Carvalho, e dos mais estremados estadistas da escola robustecida da emigração Florinda Rosa Vieira nasceu a 18 de Dezembro de 1798, Basto São Clemente/Celorico Basto. Casada a 4 de Maio de 1818 com António Bernardo Cunha Moreira, nascido a 22 de Setembro de 1794, Passos, Fafe, Luís Lopes Vieira de Castro nasceu a 11 de Novembro de 1800, na Casa do Ermo, em São Vicente de Passos, concelho de Fafe e faleceu a 30 de Setembro 1844. Foi sepultado na Lapa, cidade do Porto. Foi casado com Emília Angélica Cardoso, natural de São Salvador de Moreira da Maia e falecida em 28 Maio 1882. Magistrado da Relação do Porto, havia sido Juiz de Fora em Angra do Heroísmo. Sobre o desembargador Luís Lopes, Camilo diz: que tão a primor de lustre e honra exercitou na judicatura da Relação do Porto, e em Angra do Heroísmo, onde estivera de juiz de fora, quando emigrado. Era proprietário da Quinta do Mosteiro, em Moreira da Maia, que pertencera a uma ordem religiosa, até à extinção desta. O Casal teve quatro filhos: Luiz Lopes Vieira de Castro (n.1834); Emília Adelaide Vieira de Castro (freira), José Cardoso Vieira de Castro nascido em 2.01.1836 e falecido em 1872 que foi casado com Claudina Adelaide Guimarães (nascida em 1852; casada em 1867) e António Manuel Lopes Vieira de Castro nasceu a 12.09.1839 Aos 15 anos de idade, José Cardoso Vieira de Castro, matriculou-se na faculdade de Direito da Universidade de Coimbra e, durante o ano de 1852, vivendo no Porto, conhece Camilo e tornando-se amigos. Em 1857, José Cardoso Vieira de Castro aparece a insurgir-se violentamente em defesa de Barjona de Freitas como candidato preterido num concurso interno. Esta atitude teve como consequência a sua expulsão da Universidade, sendo, contudo, dois anos depois, readmitido e o erro de exclusão de Barjona reparado. Porém esta atitude torna-o numa figura nacional de que os jornais vão dar noticias e, das quais vai procurar retirar em ganhos políticos. Nesse tempo Camilo visita Fafe e a Casa do Ermo, fazendo amizades que mantém, posteriormente, com as figuras mais importantes da terra, nomeadamente com o Comendador Albino de Oliveira Guimarães e outros a que se refere nas suas obras. Em 1859 José Cardoso Vieira de Castro regressa a Coimbra onde frequenta o 5.º ano de Direito, sendo riscado (1860) perpetuamente, «por ter insultado o chefe dos archeiros». Em 1860, as vidas de Camilo e José Cardoso criam vínculos de particular amizade, quando o escritor se refugia na Caso do Ermo em Fafe, por se encontrar perseguido. A razão desta fuga prendeu-se com a prática de adultério com Ana Plácido, casada com o Brasileiro Pinheiro Alves e que recorda em «Memórias do Cárcere» Fui de Santo António das Taipas para as cercanias de Fafe, quinta do Ermo, onde me esperava com os braços abertos e o coração no sorriso, José Cardoso Vieira de Castro, Falseei a verdade. Vieira de Castro esperava-me a dormir, naquela madrugada dele, que era meio-dia no meu relógio. Vieira de Castro, entre 1862 e 1863, é Vice-Presidente da Câmara de Fafe, liderada pelo Conselheiro Joaquim Ferreira de Melo, regressando, neste último ano, a Coimbra para concluir o Curso de Direito, após lhe ter sido levantado o castigo pelo Governo. Nos conflitos académicos que se sucederam, lutou pela demissão do reitor ditatorial Basílio Alberto e solidarizou-se com os colegas, por «prepotências da corporação militar», incitando-os a abandonar Coimbra e a concentrarem-se no Porto (1864). Em 1865 é eleito deputado pelo circulo de Fafe, pela oposição democrática, confirmando as qualidades de orador que já se tinham mostrado nas lutas académicas e cívicas e que vão ser confirmadas no Parlamento. Em 1866, é agraciado com a comenda de Carlos III, de Espanha e admitido como sócio na Academia Real das Ciências de Lisboa. Na viagem que faz ao Brasil, onde tem parentes ricos e influentes, constituindo uma comunidade numerosa, é recebido com uma Carta pública de felicitação, tendo como destinatário «o eloquente deputado o sr. Vieira de Castro pelos cavalheiros portugueses naturais de Fafe e residentes no Rio de Janeiro.» Embarca neste mesmo ano para o Brasil com o confessado objectivo de casar com herdeira rica. Fez-se acompanhar de uma edição de 10000 exemplares dos seus discursos parlamentares, publicados nesse ano, que pretendia vender lá para resgatar a empenhada Casa do Ermo, pertença da família. Ao chegar ao Brasil, instala-se na Chácara de primo e Comendador José António Vieira de Castro, sendo recebido com honras invulgares, inclusive pelo imperador, que o condecorou com o grau de cavaleiro da Ordem da Rosa. «Rio de Janeiro, de 23 de Junho de 1865 Ilustríssimo e ex.mo sr. José Cardoso Vieira de Castro Nós que aspiramos o primeiro hálito de vida no mesmo torrão que honraste nascer; nós tão longe desses sempre vivos vales do Minho, que nos foram berço e são saudades, d'aquém mar saudamos o conterrâneo exímio que, como astro vivificador do universo, derrama pelo órgão omnipotente de seu verbo a terra da pátria tal luz e esplendor, que ainda aquece e alumia aqueles que um destino pouco amigo arremessou a terras remotas e estrangeiras. [...] A vós, pois, a quem Deus fadou para tão altos feitos, nós, conterrâneos exilados, enviamos este fraco testemunho da nossa admiração e agradecimento pelo ardor com que vos empenhais em melhorar os destinos da pátria, e glorificar o nosso berço. Albino de Oliveira Guimarães, José António Vieira de Castro, José Antero da Silva Braga, Albino Mendes de Oliveira, Augusto Leite de Castro, Fortunato José de Sousa, Custódio José da costa Guimarães, José Gomes de Oliveira Guimarães, João Pinto Ferreira Subtil, António Gonçalves Guimarães, Bernardino Ribeiro de Freitas, António Joaquim Pereira de Carvalho, António Gomes da Cunha Sobrinho, José Vieira da Costa e Silva, António Luís de Oliveira, António José Ferreira de Sousa Guimarães, José Maria Monteiro de Campos, Agostinho Gonçalves Guimarães, António Gomes de Castro, Manuel Moreira Fonseca. (cf. Gazeta de Portugal: 25-07-1865). Aí priva com os intelectuais Brasileiros, nomeadamente com Machado de Assis. O entusiasmo era tão generalizado e de tal ordem que os comerciantes portugueses do Rio de Janeiro lhe ofereceram uma coroa de ouro, «avaliada em quatro contos de réis», sendo feito Presidente Honorário do Gabinete Português de Leitura no Rio de Janeiro. É neste quadro de euforia de recepções, palestras e conferências que José Cardoso acaba por oferecer, a título beneficente, 1000 Discursos Parlamentares à Real Sociedade de Beneficência da Baía, os quais foram remetidos pelo seu amigo fafense no Rio, comendador Albino de Oliveira Guimarães que custeou o despacho no valor de quarenta mil réis. O Gabinete Português de Leitura do Rio recebeu a oferta do manuscrito do discurso sobre Caridade, feito por José Cardoso, no Teatro Lírico. Este ofereceu ainda 1 000 exemplares dos Discursos Parlamentares a esta Instituição, e 6 000 exemplares dos Discursos ao Hospital Português do Rio de Janeiro e à Caixa de Socorros de D. Pedro V. A viagem atinge o seu esplendor no momento em que José Cardoso fica noivo e em 28-2-1867, casa no Rio de Janeiro, com Claudina Adelaide Gonçalves Guimarães, que tem apenas 15 anos e é filha do comendador António Gonçalves Guimarães, natural de Fafe, homem riquíssimo, director do Banco do Brasil do Banco Rural e Hipotecário, residente em 1862, na cidade de Lisboa, instalado no Hotel Itália. Estas notícias chegam a Portugal, através da imprensa do Brasil em 1867, onde se refere que o Sr. Guimarães é o principal capitalista da colónia portuguesa fafense, toda aliás muito notável pelos membros de que aqui se compõe. «Damos nesta secção as notícias do Brasil, compendiadas na carta do nosso esclarecido correspondente. Tivemos novas directas do nosso amigo Sr. deputado Vieira de Castro. Devia ter casado no dia 28 de Fevereiro ou 14 de Março no Rio de Janeiro com uma filha do rico capitalista Gonçalves Guimarães que foi director do Banco do Brasil e que em 1862 residiu em Lisboa no hotel de Itália. Estavam destinados para padrinhos do casamento o ministro das obras públicas do império e sua esposa. Os noivos devem no mês de Abril passar na Bahia donde vão aos Estados Unidos, à Inglaterra, à França, à Suiça e a Itália e finalmente virão para Portugal.» «Lê-se no Monitor Português do Rio de Janeiro o seguinte: «Casamento - Ouvimos falar no próximo enlace conjugal do ilustre deputado português, o nosso amigo o sr. Viera de Castro, com uma filha do sr. António Gonçalves Guimarães, um dos directores do banco rural hipotecário, que o tem sido sempre do banco do Brasil, e que é um dos nomes mais desta praça, não só pela elevada fortuna, como pelas suas mais elevadas qualidades que aqui lhe conquistam a boa querença e a estima de todos quantos o conhecem. É a indigitada noiva menina de esmeradíssima educação e de formosa gentileza. Por todos estes motivos nós felicitamos o nobre orador português a quem auspiciamos todas as felicidades, se porventura se realizar este boato, que corre em todos os círculos. Já nos ia esquecendo ponderar que o sr. Guimarães é incontestavelmente o principal capitalista da colónia portuguesa fafense, toa alias muito notável pelos membros de que aqui se compõe. A realização pois do boato referido será ainda uma agradável surpresa para todo o circulo, que o sr. vieira de Castro tão brilhantemente tem representado no parlamento do seu país.» «Prelecção - Como havíamos anunciado, o nosso nobre amigo, o ex. mo sr, Vieira de Castro , deu a sua prelecção, cuja tese, porventura muito ventilada por grandes oradores, foi por s. ex.ia desenvolvida com toda a opulência da frase, com toda a vastidão de ideias, com todos os requisitos da oratória. «Da caridade e sua influencia nas sociedades - esta foi a tese. (...). Foi incontestavelmente um dos maiores triunfos da tribuna moderna. S. ex. ia falou por espaço de duas horas e meia. No fim cumprimentado e abraçado por toda a gente. Os srs. ministros encantaram o orador português com amabilidades. O sr. ministro das obras públicas amigo intimo hoje do sr. Vieira de Castro, disse-lhe estas palavras: Selvagens é esta eloquência! . A palavra -Selvagem aludia ao prologo do do discurso do sr. Vieira de Castro, em que este país era -selvagem -em tudo, e por isso grande!, Estas suas apostrofes são para nós o que se há pensado de mais atrevido e sublime a respeito do Brasil. No fim o sr. Vieira de Castro veio cumprimentar a todas a as senhoras, que eram da mais distinta hierarquia. S. ex ia foi amabilissimamente tratado por todas.» «Hospital português de beneficência - Neste estabelecimento, onde todos os dias se repetem os milagres da caridade exercida da colónia portuguesa, tomou espontaneamente a seu cargo a despesa deste mês, o sr. José António Vieira de Castro, primo do ilustre deputado português que actualmente se acha na chácara daquele mesmo cavalheiro. Sã estas as verdadeiras nobreza e dedicação» «Ainda os donativos do nosso nobre deputado português - Do diário da Baia transcrevemos as seguintes cartas honrosas. Orgulhamo-nos sempre que damos notícia a nossos assinantes de tão nobre e honrado hospede: Illmo. sr. - O nosso ilustrado e distinto compatriota e exímio parlamentar José Cardoso Vieira de Castro, actualmente de visita na corte do Rio de Janeiro, dali me escreveu ha poucos dias, encarregando-me nos termos mais lisonjeiros para mim e honrosos para o prestigiado nome português neste país, de fazer constar à real sociedade portuguesa de beneficência da baia o oferecimento que lhe faz de mil exemplares de discursos parlamentares, cujo produto deverá reverter em beneficio de quaisquer melhoramentos do hospital português, sito no Bonfim que ele visitou em minha companhia, na sua passagem há pouco por este porto, e em cujo livro de visitantes deixou, a convite meu, inscrito o nome. Dando conta de tão filantrópico e louvável pensamento, cuja transmissão constitui para mim a mais agradável e honrosa incumbência, peço licença de aqui incluir desde já o conhecimento do volume que contém os respectivos livros, e que deve brevemente chegar a este porto na barca Maria e Amélia. Cumpre-me ainda acrescentar que o nosso compatriota Albino de Oliveira Guimarães, encarregado no Rio de Janeiro de remeter para aqui o volume de que se trata, me diz ter dispendido, como o despacho e remessa dele, cerca de quarenta mil réis, que ele pede licença de oferecer à sociedade de beneficência. Rogando pois a V. S a se sirva levar todo o exposto ao conhecimento da direcção da real sociedade portuguesa de beneficência, por v. s tão dignamente presidida; permita a mesma direcção que eu me antecipe a pedir ser contemplado na respectiva distribuição, com um exemplar, pelo qual peço licença de correspondendo tão parcamente quão bizarros seriam os meus bons desejos, ao pensamento filantrópico do nosso exímio compatriota Vieira de Castro, oferecer a insignificante quantia de cinquenta mil réis que incluo aqui, em benefício do sobredito hospital português. Aproveito com suma satisfação a oportunidade para oferecer a v.s os protestos de minha consideração e estima. deus guarde a v.s.a Consulado de Portugal na Baia 7 de Novembro de 1866 . Ill mo sr José Caetano Pereira Espinho, digno presidente da direcção da real sociedade portuguesa de beneficência.» «Visita Honrosa - No dia 11 do mês passado, dia 11 do mês passado, dia em que o redactor deste jornal festejava, em família, o primeiro aniversário do seu consorcio, o ex. mo sr. Vieira de Castro, em companhia do simpático e talentoso poeta, o sr. Dias de Oliveira, fez-lhe a honrosa surpresa de o visitar na sua morada do Rio Comprido. S. ex.a chegou a li à noite, onde o sr Moreira de Sá lhe proporcionou um modestíssimo soiré em que s. ex. a o sr. Vieira de Castro dançou a primeira quadrilha francesa com a esposa do sr. Moreira de Sá. O sr Dias de Oliveira recitou algumas da sua brilhantes, mas sentimentais poesias; a ex.ma sr.a D. Leopoldina da Cunha Magalhães cantou ao piano trechos de operas, sobressaindo muito em gosto e e execução o trecho da opera Les Bavards. Recitaram os talentos moços brasileiros, bom sucesso Junior e Manuel António Major. O sr. Vieira de Castro não sente morder-se no seu orgulho quando troca os salões dourados da aristocracia e dinheiro pelas modestíssimas salas da pequeníssima tebaida dum publicista obscuro: é que o sr. Viera de Castro, ou lá, ou cá, o mesmo Vieira de Castro, e em toda a parte não recebe senão exuberantíssimas provas da mais sincera consideração e estima.» Gazeta de Portugal, 19 de Março de 1867 Em 28-2-1867, no Rio de Janeiro, casa com Claudina Adelaide Gonçalves Guimarães, filha do Brasileiro António Gonçalves Guimarães, natural da freguesia de São Martinho de Silvares, concelho de Fafe, e é referido, na imprensa brasileira da época, como livreiro e um dos directores do Banco rural e hipotecário, que tem sido sempre do Banco do Brasil, e que é um dos nomes mais respeitáveis desta praça, não só pela sua elevada fortuna, como pelas suas elevadas qualidades, que aqui lhe conquistam a bem querença e a estima de quantos o conhecem (...). O Sr. Guimarães é incontestavelmente o principal capitalista da colónia portuguesa fafense, toda aliás muito notada pelos membros que a compõem e um dos que integrou a comissão de angariação de fundos para a construção do Hospital de Fafe, no Rio de Janeiro[1]. 1] «Monitor Portuguez do Rio de Janeiro, citado pela Gazeta de Portugal, Lisboa, 19 de Março de 1867 Segundo o Almanak Laemmert de 1867, António Gonçalves Guimarães, era proprietário da António Gonçalves Guimarães C., situada na rua do Sabão 26 e 82. O estabelecimento no número 26 era uma loja que cobria os ramos de comércio de papel, livros em branco e objectos de escritório e fantasia; de livros impressos e em branco, encadernação e que tinha autorização para venda de papel selado; no numero 82 funcionava a tipografia Episcopal. A tipografia pertencera, de 1848 até 1957, a Agostinho de Freitas Guimarães. Em 1871, a rua do Sabão passaria a se chamar General Câmara, quando a tipografia ganharia novo numero, 22, e passaria a ter como titular Agostinho Gonçalves Guimarães C., sendo transferida, em 1887, para a J. Guimarães C. António Gonçalves Guimarães pertencia à directoria do Banco Rural e Hipotecário, situado na Rua da Quitanda 121, e presidido pelo Visconde Estrela, era Escrivão da Irmandade do SS Sacramento da Freguesia da Candelária, cujo provedor era Guilherme Pinto de Magalhães e ao Conselho Deliberativo do Gabinete Português de Leitura, presidido por José Pereira Soares. Notícias da Imprensa brasileira anunciaram que seriam padrinhos do casamento o Ministro das Obras Públicas do Império do Brasil e sua esposa. O Comendador sentia-se orgulhoso por a filha se casar com um seu patrício. O casamento é anunciado na imprensa Portuguesa e publicitado que os noivos partiram para uma dilatada viagem de núpcias que se iniciou na Baía, seguindo os noivos pelos Estados Unidos da América, Inglaterra, França, Suiça, Itália e finalmente Portugal. Chegados a Portugal, instalam-se em Moreira da Maia, Porto. Porém o provincianismo do Porto cansa a Claudina, acabando-se por se instalar em Lisboa, na Rua das Flores, onde recebiam os amigos: Ramalho Ortigão, António Rodrigues Sampaio e, entre outros, José Maria de Almeida Garrett. Em 1867, foi distinguido pelo Rei D. Pedro II com o hábito de Cavaleiro da Ordem da Rosa e, em 1868, prepara a sua reentrada na vida política, candidatando-se a deputado por Lisboa ou pelo Porto, projectando o lançamento de um jornal, para competir com o Diário de Notícias, com a cooperação de Camilo Castelo Branco, Manuel Roussado e Miguel Bulhões, o que acaba por não se concretizar. Em 25/07/1869 fez no Porto o famoso «Discurso sobre os testamenteiros de Ferreira», indivíduos que tentavam desvirtuar os fins beneficentes do dinheiro deixado pelo Conde Ferreira. No dia 7 de Maio de 1870, a tragédia aproxima-se, quando, julgando confirmadas as suas suspeitas de infidelidade da sua esposa, com o sobrinho de Almeida Garret, acaba por assassinar a sua jovem esposa, quando esta dormia, usando para isso, uma almofada com clorofórmio. No dia seguinte entregou-se às autoridades, confessando o crime. Em 1871, é julgado, partindo para Angola, a fim de cumprir a pena de 10 anos de degredo, vindo a falecer nos arredores de Luanda em 5 de Outubro de 1872, com apenas 36 anos de idade. Miguel Monteiro
Biografia de
José Cardoso Vieira de Castro