Emigrante
Félix António da Rocha
Biografia
  Félix António da Rocha, filho de Francisco António da Rocha, comerciante, natural dos Arcos de Valdevez, nasceu em Ponte de Lima a 5 de Dezembro de 1824. Tendo apenas os primeiros rudimentos de instrução primária e a idade de dez anos incompletos, foi por sua mãe, que estava viúva, colocado na carreira comercial, e fez tirocÃnio em Braga no estabelecimento do honrado e exemplar mercador Félix Coelho de Araújo Ribeiro, seu padrinho. Aos conselhos e exemplos de religiosidade e honradez, incarnados no seu coração pela desvelada mãe, aliara-se a prática de austeridade daqueles deveres por parte do patrão e padrinho: e uma tal educação formou e robusteceu a alma severa do homem probo e recto, aprumado em tudo, que é, e o foi sempre, tal como aà o vemos. Em 1843, estando em caminho dos dezanove anos e atentando que o centro onde gastava a sua actividade lhe não prometia futuro, — um futuro mais ou menos próximo de independência pelo seu trabalho, — resolveu demandar o Brasil e diligenciar aà a conquista ambicionada. Partiu de Braga para o Porto no dia 18 de Abril; ali camaroteou-se a bordo da barca Castro 3.º, em 6 de Maio; e depois de quarenta e cinco dias de viagem, no dia 20 de Junho, desembarcou no Rio de Janeiro. O primeiro cómodo que obteve foi num armazém de ferro, onde o trabalho pedia forças hercúleas e por isso apenas se conservou três meses e dezoito dias. Procurou e conseguiu arrumação numa casa de ensaque de café, a do alemão Frederico Frolich, donde passou para outra idêntica de Frederico Rodolpho Lamaya, e desta para a do visconde de Rio Bonito, com a firma de Faro Irmão, onde foi caixeiro de confiança durante cinco anos. Desta casa começou a cercear seu ordenado para velar, como velou, pela educação e instrução de duas sobrinhas, órfãs de mãe, — duas gotas de seu sangue e representantes de sua única irmã, que para si já era apenas uma saudade, — e para isso fê-las recolher no extinto colégio das Ursulinas, de Viana do Castelo, onde as conservou até o seu regresso à mãe-pátria. Tomara esse encargo não como um acto oficioso, mas como um dever. Na referida casa e nas anteriores, — como o apregoam os seus amigos e conhecidos contemporâneos, uns recolhidos a Portugal, outros que persistem fixamente nas terras de Santa Cruz, — teve sempre a estima e estremada consideração de seus chefes e iguais e a de todos quantos tinham e tiveram seu trato, — à conta de seu amor peto trabalho, de sua seriedade e honradez austeras manifestadas em todos os seus actos e contractos, e de sua firmeza de carácter. Daquela última casa saiu no dia 1.° de Janeiro de 1852, a fim de entrar como interessado para o estabelecimento de ensaque do comendador Francisco Gonçalves de Aguiar, já então definitivamente residente na cidade do Porto. Em 1853 os seus merecimentos elevaram-no a sócio e gerente da mesma casa. Em 1856, comprando-a ao sócio capitalista, passou a trabalhar nela de conta própria. Para isso associou-se em princÃpios de Maio com João Ribeiro Alves, que embarcando para recreio, em princÃpios de Junho no paquete que então seguiu para Lisboa, veio a falecer no Lazareto: em consequência embolsando a viúva do respectivo capital como urgiu, formou nova sociedade com António Ribeiro Tavares Guerra, a qual terminou, por força de circunstâncias que não vem ao caso, ao cabo de quinze a dezasseis meses. Por último associou-se com o seu amigo particular, hoje falecido, José Gomes de Andrade, homem honrado por excelência. Com este camarada trabalhou, lidou, lutou em marés tempestuosas e cheias de escolhos e poucas vezes bonançosas, — até que com o auxÃlio de sua protectora, como ele diz, Nossa Senhora dos Desamparados (de sua especialÃssima devoção ainda hoje) em Janeiro de 1862 liquidou, consolidando sua fortuna, e retirou para o querido Portugal. Chegou a Lisboa no dia 2 de Abril, em que se abriram e rasgaram para ele, — o feliz pelo trabalho honrado, — horizontes largos de paz, sossego e descanso, bens que por vezes têm sido ensombrados de sobressaltos e alguns prejuÃzos, como foi com a crise de 1876, e de graves desgostos pelas desgraças sucedidas a amigos, — desgraças que sentiu como se foram próprias. Félix António da Rocha, antes de recolher a Ponte de Lima, seu berço natal, visitou Braga, para ver e abraçar o seu padrinho, ex-patrão e educador, Félix Coelho de Araújo Ribeiro, — o que realizou no dia 18 de Abril, exactamente o dia em que se completavam dezanove anos depois que se havia despedido e deixado aquele honrado e austero ancião. Félix António da Rocha, ao abraçar o seu padrinho e amigo, não teve outra fórmula de cumprimento mais do que esta: — bendito seja o trabalho, que o bom velho completou: honrado. Bendito seja o trabalho é o monólogo que frequentes vezes se ouve da boca de Félix António da Rocha, quando, em abstracções suas, se recorda e pensa no hospitaleiro paÃs onde o trabalho honesto lhe granjeou a independência: — é a frase que todos os dias, ao levantar da mesa, solta irreflectidamente, em seguida à s Graças a Deus que nunca esquece. Chegou a Ponte de Lima no dia 23 de Abril de 1862, onde residiu até 1869, primeiros dias. E desde quando o conhecemos e tivemos a honra de entrar em sua distinta intimidade, que nunca se abalou até hoje. Naquele último ano e dia 28 de Janeiro casou em Braga com a Ex.ma Sra. D. Maria do Loreto Coelho da Rocha, sua predestinada, filha do seu referido padrinho e ex-patrão: — e por esse facto estabeleceu residência naquela cidade, de onde não obstante vem passar alguns meses do ano na sua casa em Ponte de Lima. Félix António da Rocha tem paladar avesso à s mercês régias, é modestÃssimo; estima muito o seu nome popular. Mas é sócio efectivo da Filantropia e da Caridade, do Patriotismo, da Honradez, da Severidade e Austeridade de costumes, da Franqueza, da Hospitalidade e da Amizade. À primeira vista o seu aspecto desagrada, assim como a sua apresentação rude e anti-palaciana: — tratado, reconhece-se o tipo do antigo português de lei, que actualmente pertence à Arqueologia; é são, jovial, aberto, franco, hospitaleiro e benfazejo sem ostentação. Conta por isso numerosÃssimos e bons amigos no paÃs e no Brasil. Na sua casa é um irmão de braços e alma abertos para todos quantos nela recebe, e em toda a parte um completo cavalheiro, inimigo de jactâncias e de fanfarronadas. Ponte de Lima, 10 de Setembro de 1885.  Miguel Roque dos Reys Lemos in Galeria Photographica-Biographica Luzo-Brazileira – Commercio e Industria (Sexto ano, Número 75). Lisboa, 1886.  Digitalização e transcrição por Isabel Ferreira Alves Fafe, Outubro de 2008.
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